Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
A MORTE DO SER
A MORTE DO SER

Mais um texto brilhante e genial de Oliver Harden.
Desta vez escancarando a realidade do homem enquanto ator da condição fictícia do existir.
O humano... uma caricatura imposta pela falsidade social. Pela tentativa vã de representar uma autenticidade não autêntica. A covardia de não assumir sua existência como dom natural da sua própria essência.

Um ser covarde que se rende a valores superficiais e vazios impostos pela pressão social.
Enquanto tal situação perdurar, jamais haverá no mundo a equilibrada justiça. A redenção humana. A perseverança do bem sobre o mal. A utopia da felicidade sobrepujando o niilismo, o vazio existencial, a desesperança.

Não há porquê o ser humano se entregar ao que é maldito, insano, perverso, desumano.

Será que o bem é tão fraco para se subordinar ao mal?

Neste quesito, apelo para a condição dialética de Hegel: Jamais haverá mal ou bem absoluto e definitivo.

Marco Antônio Abreu Florentino

A seguir, o texto genial e profundo de Oliver Harden 👇👇👇👇👇👇          

NECROLOGIA DO SER

O humano de hoje é apenas a caricatura exausta de um projeto que
fracassou. O que um dia se chamou homem, essa tentativa grandiosa de
fundir razão e sensibilidade, matéria e espírito, hoje é apenas ruína
animada, vestígio ambulante de uma dignidade que se perdeu entre
telas, slogans e promessas vazias. Veste-se com roupas que não são
trapos por pobreza, mas por indiferença, por desistência, roupas
costuradas com os fios da repetição e do senso comum, do ridículo
elevado à norma.

Sua fala não é mais linguagem, é eco, um eco oco de frases recicladas,
bordões virais, opiniões automatizadas que pulsam sem pensar. E quando
canta, não há mais canto, apenas um ruído monótono, mecânico, uma
melodia tão enfadonha quanto a vida que insiste em representar.
Não pensa, repete. Não sente, simula. Não vive, interpreta. O que
restou não é mais sujeito, é performance contínua.

É o manequim que se move, mas não respira. O que chamávamos de alma evaporou-se, talvez por tédio, talvez por asco. E o que ficou foi uma sombra. Mas não a
sombra fecunda, cheia de mistérios, uma sombra que se julga luz, um
delírio luminoso que brilha não por essência, mas por efeito de
holofotes..

O “parecer”, esse disfarce de existência, triunfou. O “ser” foi
expulso como blasfêmia. O mundo não apenas deixou de buscar a verdade,
ele a ridicularizou, a confinou ao domínio do “antiquado”, do “não
lucrativo”. A felicidade tornou-se falsidade, pior do que uma ilusão,
um marketing, uma campanha publicitária.

A poesia foi condenada, transformada em heresia diante do culto da
eficácia. A palavra viva, portadora de silêncio e assombro, foi
substituída por gírias ruidosas, por palavras com prazo de validade,
por chavões que não dizem nada. E o talento? O talento apodrece nas
sarjetas da indiferença, não por falta de valor, mas porque a lógica
do mundo atual repele qualquer brilho que não seja domesticado.

O belo virou suspeito, o profundo virou doença, a lucidez virou
patologia. Pensar é um fardo, sentir é um escândalo. O mercado quer
idiotas produtivos, otários motivados, consumidores eufóricos e
dóceis. E os tem, aos milhões.

As utopias morreram, o niilismo venceu, não como tragédia, mas como
entretenimento. O nada não se anuncia mais com angústia, mas com
risos. A ausência de sentido não se vive com dor, mas com distração. E
a tragédia final não será a guerra, nem a fome, nem o colapso
ecológico, será o esquecimento absoluto de que um dia houve
profundidade, interioridade, alma.

Não há retorno. O humano, enquanto ideia de profundidade ontológica,
está morto. O que resta é o manequim fluorescente dançando no TikTok.
E ele sorri. Sempre sorri. Porque é isso que esperam dele, porque já
não sabe fazer outra coisa, porque não há mais ninguém dentro.
Um réquiem para o espírito humano, sem esperança, sem consolo, sem ressurreição.

Oliver Harden
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 18/06/2025
Alterado em 18/06/2025
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