DESPACHO DEMORADO
DESPACHO DEMORADO
Nascido em Jundiaí, interior paulista, de família simples e austera,
Saulo, desde tenra idade, mostrou que veio ao mundo pra ser
protagonista.
Estudou medicina e se especializou em GO (ginecologia obstetrícia).
Ingressou como médico na FAB - Força Aérea Brasileira e logo foi
transferido para o nordeste. Se estabeleceu em Natal/RN.
Através do primeiro parto cesariano da esposa dum sargento, criou uma
aproximação que se tornaria, pelo destino, sua melhor amizade. Tal
sargento era natural do Paraná, motivo que o levou a morar na linda e
próspera capital desse estado: Curitiba.
Em lá morando, ironicamente, fez também o parto do quinto e último
filho daquele sargento que, agora oficial, já nutria uma amizade que
se tornaria sólida e duradoura.
Casou com uma mulher nobre, bonita e elegante com a qual teve dois
filhos: Rives e Gael. O primeiro, muito discreto e reservado, destoava
do segundo, comunicativo e irrequieto, de uma simpatia ímpar desde
criança. Logo fez amizade com os filhos e filhas do amigo tenente,
motivo de frequentes encontros na casa deste, na vila militar a qual
morava.
Devido a influência da esposa, mulher retraída e muito restrita, Dr.
Saulo quase não tinha amizades, por isso valorizava em demasia seu
amigo tenente e sua família, cujos filhos, devido o apelido do mais
velho ser Pateu, chamava todos de pateuzada.
Era staff da GO em um hospital universitário onde conheceu outro amigo
o qual também se apegou: Dr. Nalho, cirurgião dentista, um homem já
ancião de 89 anos de idade, que não aceitava sua condição de
aposentado e vivia rondando o hospital. Tanto era sua negação da idade
e convicção de que ainda podia produzir e ser útil que, aos 89 anos de
idade, fez um seguro de vida pra receber somente após 20 anos.
Certo dia, Dr. Saulo foi à casa desse amigo para lhe dar um recado. Em
lá chegando, foi recebido pela esposa do amigo, senhora idosa e
Franzina, de voz fraca e quase imperceptível.
- Cadê o Nalho? perguntou um Saulo avexado para um parto cirúrgico no Hospital.
- Dr. Saulo, Nalho está despachando, mas acho que vai poder lhe
atender logo, pois já faz mais de uma hora que despacha.
Dr. Saulo resolveu esperar, apesar do compromisso cirúrgico, pensando
em não ter que voltar à casa do amigo.
Quinze minutos depois, já inquieto perguntou pra vetusta: - Será que
ainda vai demorar? Esse despacho é muito importante e complicado? Posso
voltar mais tarde.
No que a senhorinha respondeu: - Acho que não doutor, afinal, já faz
quase duas horas que ele está despachando. Dr. Saulo esperou mais quinze minutos e resolveu ir embora prometendo
voltar mais tarde.
Quando estava na porta de saída, ouviu-se o som de
uma descarga de vaso sanitário.
Exasperada, a provecta exclamou: - Espera doutor, ele acabou de despachar.
Marco Antônio Abreu Florentino
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 28/02/2025
Alterado em 28/02/2025