FELIZES PARA SEMPRE?
FELIZES PARA SEMPRE?
Escrevo este ensaio em terceira pessoa. ¨Qualquer semelhança com
pessoas, fatos ou situações da vida real terá sido mera coincidência¨.
Pois bem, nosso tema é o casamento... não o formal, mas a união de
duas ou mais criaturas para convivência mútua no dia a dia. Na grande
e esmagadora maioria, por conveniências e falsos valores sócio
culturais, a união heterosexual.
O casamento, quando formal, cumprindo as exigências da sociedade
humana através do contrato social, financeiro, jurídico e religioso, é
um verdadeiro regozijo entre o casal, famílias, amigos, parentes,
aderentes e outros terceiros.
Num momento singular de extrema felicidade, o casal faz e reafirma
juras de amor: ¨Eu, (nome), aceito você,([nome), como meu legítimo
esposo/esposa e prometo estar contigo na alegria e na tristeza, na
saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, amando-te, respeitando-te
e sendo-te fiel em todos os dias de minha vida, até que a morte nos
separe.
Estar juntos na alegria e na tristeza significa que existe uma base
que permanece independente das circunstâncias ao redor. O
companheirismo é o que transforma uma relação em algo duradouro, pois
é construído com a base sólida da lealdade, do respeito e da
reciprocidade.
Acontece que, na realidade, existe um obstáculo quase intransponível
para que essas juras não se cumpram: O COTIDIANO E A INDIVIDUALIDADE.
Quase todos os casais que conheci na minha já longa vida, bastaram
conviver cinco anos, muitos até menos, para começarem a apresentar
crises conjugais, algumas tão graves que geraram separações de
divórcios.
Mesmo casais que namoraram por longo tempo, quando se unem a
convivência dia a dia se torna difícil.
Cheguei a uma óbvia conclusão de que tal situação só consegue ser
superada quando uma das partes cede em relação à sua vontade e
personalidade. Geralmente é a culturalmente e historicamente mais
frágil: a mulher.
A civilização humana ocidental e, principalmente a oriental, impôs à
mulher, a responsabilidade da manutenção do casamento e da permanência
junto ao seu companheiro, mesmo a ferro e fogo.
Quando minha mãe era viva e já separada do meu pai, presenciei um
encontro dela com uma amiga de infância que não via há muito tempo.
Transcrevo a seguir, o diálogo:
Amiga > - Oi fulana, quanto tempo. Como vai fulano, seu marido?
Minha mãe> - Me separei há algum tempo.
Amiga> - Meu Deus, por que fizeste isso? Há muito tempo que não
aguento o meu. Já traí ele e somos praticamente dois estranhos, mas
não dou o gostinho da separação pra sociedade.
E assim a humanidade caminha, em meio à falsidade, hipocrisia,
aparências, às imagens distorcidas e aos mecanismos de defesa como
negação, projeção, formação reativa, sublimação e transferência.
Outros fatores, considerados fundamentais, fazem com que os casais
procurem manter tal situação de sofrimento a dois. Entre os
principais: filhos, condições financeiras,orgulho próprio, manutenção
da falsa imagem da família feliz... e outros de menor importância.
Costumo citar que na minha família existiu um casal (tios), que a
despeito de todas essas veracidades, mantiveram um relacionamento
companheiro, amoroso e harmônico por toda a vida. Ela, com sua
inteligência, perspicácia e meiguice, além da religiosidade sincera,
aparentemente cedia, mas era quem determinava o caminho a seguir para
o sucesso e a harmonia de uma família exemplar.
Recentemente, conheci um casal que já estava junto há vinte e cinco
anos. Ele, vinte anos mais velho, saiu de um casamento que durou vinte
anos e dois filhos, muito amados pelos pais.
Tiveram, depois de dez anos de convivência, uma filha planejada e,
tanto por isso como pela relação amorosa envolvida, também muito
amada.
Entre momentos de muito amor, carinho e respeito que ocupavam a maior
parte dos seus tempos de convivência, ocorriam discordância, pequenas
discussões e aborrecimentos, comuns do dia a dia.
Até que, numa altercação mais séria, decidiram morar separados
mantendo o casamento civil e legal, visando principalmente proteger a
filha e os direitos de cada um.
Acontece que, como persistiu a relação amorosa espiritual e física,
passaram a namorar como a muito tempo não namoravam. Convivem felizes,
ora numa moradia, ora na outra. Quando sentem necessidade de se verem
e estarem juntos, ficam juntos. Porém cada um mantendo suas
individualidades.
Continuam sendo uma família, entretanto, com duas residências.
O pitoresco dessa história fica pelo fato de que, muitos amigos do
casal deixaram de se encontrar com os dois. Posso estar enganado, mas
acho. até pela brincadeira dos maridos, que se deve à insegurança,
medo e preconceito social das suas respectivas mulheres, como aquela
amiga de infância da minha saudosa mãe.
Em verdade é que, o casal continua se amando e se respeitando na
alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza,
por todos os dias das suas vidas, até que a morte os separem ou os
unam na eternidade.
Assim seja.
Marco Antônio Abreu Florentino
https://youtu.be/rWdRtdM-WCU
(Aisumasen / I´m Sorry - John Lennon)
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 20/12/2024
Alterado em 20/12/2024