A CERTEZA COMO FATOR ALIENANTE
A CERTEZA COMO FATOR ALIENANTE
Dando continuidade a essa grata descoberta nas redes sociais de um autor, escritor, filósofo e pintor, esplêndido e excepcional no que faz, cria e produz, alguém que, em muito se assemelha ao nosso Pardal Ayala Gurgel, transcrevo mais um texto seu no qual concordo 100%.
Até fiz, recentemente, uma poesia que tem tudo a ver com que Oliver Harden escreveu nesse texto sobre a nocividade que a ¨certeza¨, aqui vista como fator de acomodação e alienação do homem, em detrimento da sua autenticidade e liberdade existencial, pressionada pelos valores sociais, desde sempre estabelecidos na civilização, podem interferir na sua própria felicidade e auto afirmação como ser pensante.
Aí reside toda a falsidade e hipocrisia humana.
A seguir, a poesia a qual me referi e depois o maravilhoso texto de Oliver Harden:
O CUSTO DO MESMISMO
É o sentimento de acomodação
A incapacidade de ser e sonhar
O triunfo niilista sobre o coração
Aceitação de, unicamente estar
Mesmice é a monotonia em vida
A Inviabilização da possibilidade
Ao fechar todas as vias de saída
Negando para si a leda felicidade
Ente criativo não chora por chorar
Fica arrasado por não poder lutar
Adversidades tecem sua fortaleza
Criam firmeza preservando beleza
Faz do viver o bem mais precioso
E o dia a dia se torna maravilhoso
Marco Antônio Abreu Florentino
TEXTO DE OLIVER HARDEN
Anseio por um sonho que transcenda a subordinação ao real, um devaneio que floresça em liberdade, alheio à concretude.
Na vastidão do pensamento, nada exijo das certezas — essas arrogantes senhoras, altivas em sua segurança. Prefiro o convívio com o incerto, que me acolhe sem desdém, enquanto a certeza, fria e implacável, dita os contornos do admissível e condena aquilo que ousa escapar de sua moldura.
Em meu vagar desmedido pelo pensar, frequentemente sou pedra no caminho da certeza, que impõe limites rígidos ao espírito. Ela ameaça com os rótulos de loucura e descrença, como uma deidade punitiva que amaldiçoa antes de confinar.
Numa sociedade esquizofrênica de tão líquida, onde ideias deslizam como enxurradas em direção ao abismo, somos compelidos a encolher sob máscaras toscas, justificando uma superficialidade lamentável. Quão risíveis são essas faces, grotescas na sua tentativa de vestir as aparências de profundidade!
Não, esse espetáculo não me arrebata, nem merece o tributo do meu aplauso. A vida, em sua ferocidade vibrante, é arte indomável, prazerosa em sua selvageria. Que pena que tantos abdiquem de domá-la, preferindo o conforto da carruagem das certezas, conduzida pelas rédeas do conformismo.
É lastimável que, em tempos tão avessos ao vigor do pensar, se escolha o vazio da ressignificação ao invés do esplendor da erudição, que ousa expandir o ser em sua magnitude.
Oliver Harden
https://youtu.be/jWHH4MlyXQQ
(Geni e o Zepelim - Chico Buarque)
Marco Florentino e Oliver Harden
Enviado por Marco Florentino em 09/11/2024