Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
CARTAS POÉTICO - FILOSÓFICAS
CARTAS POÉTICO - FILOSÓFICAS

COMENTÁRIO SOBRE O SONETO RETORNO À MORADA, REGISTRADO A SEGUIR:

RETORNO À MORADA
Forma primeira de manifestação do ser
Na conexão do homem com a natureza
Demonstra sua presença e o seu saber
Faz do hábito sua virtude e sua certeza

O espaço de revelação do ente humano
No extenso caminho em direção à ética
Seu agir conforme o imperativo Kantiano
Concebe o real na sua projeção estética

Na obediência subjetiva demarca sua lei
Sobre o paradoxo...¨só sei que nada sei¨
Não declina sua morada de valor original

Segue os princípios do tema racionalista
O qual diz razão é universal, não egoísta
E assim cria os limites do proceder moral

Marco Antônio Abreu Florentino

CARTA COMENTÁRIO DE AYALA GURGEL:
A performatividade poética é interessante. Ela manifesta a emoção do poeta e provoca quem lê.

Por um momento, retornei no tempo, viajei no espaço, sem deixar de ser sábado. Nossas conversas em tua casa, que adentravam pela madrugada do domingo. Em muitas delas vc repetiu esse mantra: a ética é a morada do ser.

A performatividade provocativa quase me impele a dizer algo. A comentar sobre o paradoxo da natureza que produziu sua antítese ou de retornar a algo do qual é impossível sair.

No entanto, não tenho como dizer. Não tenho a arte dos versos, nem a métrica da poesia. A prosa é boa quando é lúdica.
Aguardo um dia poder falar.
Até lá, meu abraço virtual.

PS, Tua poesia é uma mistura de selvageria com prisão. Vejo um animal selvagem, feroz, capaz de devorar a alma humana, mas preso em uma jaula, perfeita, metricamete medida que não o deixa nem se contrair ou expandir, para que sua selvageria e a jaula tenham a mesma natureza.

Ayala Gurgel
(Mestre em filosofia pela UFPB, doutor em políticas públicas pela UFMA e doutorando em filosofia pela UFC. Autor de vários livros nas áreas de filosofia, sociologia, tanatologia e teologia. Autor do conhecido romance de ficção ¨O Livro de Caim¨)


RESPOSTA:
Querido Ayala, saudações!
Sempre espero para os poemas que produzo e envio ao restrito círculo de amizade que tenho, algum comentário/análise.

Vindo de você, na condição de profundo conhecedor da história da filosofia.
Também e principalmente como filósofo que busca o entendimento original dos textos e seus autores, como se perscrutasse em suas mentes... e mais que isso, dando uma interpretação digna da filosofia, a que surpreende e causa espanto.

Essa característica própria e particular sua deriva, com certeza, de leitura em intensidade, leitura essa já bem mais disseminada e frequente no hemisfério norte e até na Ásia, mas que aqui no nosso grande espaço tupiniquim ainda se ressente de mais e melhores leitores, inclusive no meio acadêmico da própria filosofia, situação pessoalmente observada tanto na graduação como na pós, pelo menos nas que eu frequentei... a primeira nas UFPA e UFPB e a segunda na UFC. Talvez por isso, ou melhor, com certeza por isso, estamos nessa situação política deplorável. Um povo ignorante elege um governo ignorante.

Mas deixando a política de lado, meu interesse nessa análise reside no fato de que, geralmente procuro fazer poesia inserindo questões filosóficas, claro que não no estrito rigor filosófico, mas de tal forma que provoque, como ¨Retorno à Morada¨ provocou em você, uma reação reflexiva no leitor, sem deixar de lado a performance poética do lirismo, da métrica, do ritmo e musicalidade das palavras e das rimas. Essa é a razão de ter optado pelo estilo poético clássico como os sonetos e a estrutura parnasiana de poesia, com um toque de influência do cordel.

Em assim fazendo, como você sutilmente percebeu, sou obrigado a restringir a expansão essencial do conteúdo filosófico contido nos versos poéticos, o que não seria possível na poesia de estilo modernista.

Ah!, em tempo... fico feliz em constatar sua inserção da dialética hegeliana nessa questão do ETHOS, que também passou a ser uma constante em minha análise filosófica do real ou da dinâmica existencial. Também concordo plenamente com tua assertiva na qual afirma que é impossível retornar para algo que não se pode sair. Em verdade, nunca saímos da nossa morada.

Mas isso é papo para conversarmos pessoalmente depois da pandemia, em um botequim, sentados numa das mesas de toalhas quadriculadas encarando uma ¨loura¨ gelada e gostosa.

Agradeço o retorno, não da morada, mas da análise poética. T.´.A.´.F.´.

Marco Antônio Abreu Florentino
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 25/05/2020
Alterado em 25/05/2020
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