Revista Piauí - EDIÇÃO 146 | Novembro_2018
Carta da Polônia
O PIOR ESTÁ POR VIR
Polarização, Teorias Conspiratórias, Ataques à Imprensa – Como Uma Democracia Pode Acabar
Anne Applebaum

COMENTÁRIO:

            Artigo muito bom, que aprofunda a análise política atual da tendência mundial pelo nacionalismo exacerbado, xenofobia e preconceitos de diversas ordens, tomando como base a situação da Polônia no decorrer do século XX até os dias atuais. Descreve com maestria as cisões ocorridas nas sociedades de alguns países, a ponto de afetar até as relações fraternais e familiares.
            No meu ponto de vista, que vem de longa data e não querendo ser reducionista, filosoficamente tem sua explicação pela dialética hegeliana que estabeleceu, pela primeira vez na história, conforme afirmação da autora, através da revolução russa em 1917 com Lênin, o regime anti liberal de partido único. A partir desse acontecimento, tem ocorrido uma alternância cada vez mais polarizada e progressiva (no sentido de intensidade) nas posições políticas em todo mundo.
            Quando essa polarização tende para a direita, a qual, geralmente e em tese tem se manifestado abertamente por ações antidemocráticas, as consequências de ordem social e econômica são mais contundentes e devastadoras do ponto de vista humanitário, tendo seu primeiro momento de culminância na segunda grande guerra. Após este episódio, por ter sido marcado pelo superlativo do horror, a evolução política de alternância dialética entre esquerda e direita no mundo vinha guardando um certo limite de tolerância, exceto em algumas nações e circunstâncias isoladas que, posteriormente, o mundo, novamente horrorizado, viria ter conhecimento e a dar a devida importância.
            Entretanto, os regimes considerados de esquerda, no que pese um maior respeito à democracia, também infringiram e ainda violam alguns valores básicos de natureza político institucional que incomodam agudamente boa parte da população de uma sociedade que tem incrustada em sua essência, aquilo que Hobbes tão bem descreveu... o mal em natureza ou em estado primitivo, caracterizado pelo egoísmo, ausência de comiseração e compaixão humana e que, particularmente acho que todo ser humano os possuem, havendo diferenciação apenas pela conscientização de alguns (ou muitos) dessa condição e consequente capacidade de reprimir tais sentimentos.
            Considero como um dos maiores perigos advindos da constatação textualizada neste pequeno artigo, a tendência coletiva dos agrupamentos sociais em buscar a solução desse cenário na figura de uma pessoa, o qual a grande maioria, tal qual gado, elege como seu líder. A história nos ensina que, quando isso ocorre com indivíduos que procuram verdadeiramente o bem estar, a paz e a harmonia da sua gente, como aconteceu com Tito na Iugoslávia, é possível uma sociedade progressista evoluir, mas infelizmente, em grande parte dos casos, há uma forte tendência à tiranização desse líder e do regime político escolhido.
            Neste aspecto, acho que o Brasil está caminhando para essa direção. Espero estar errado em meu julgamento. Pelo sim ou pelo não, perdemos uma grande oportunidade de corrigir essa tendência mundial ao deixarmos de eleger Ciro Gomes.

Marco Antônio Abreu Florentino