Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
MAIS MÉDICOS: A GRANDE FARSA
OBS: Texto resposta à entrevista da socióloga americana Julie Feinsilver ao repórter da TV GLOBO Jorge Pontual para o programa ¨Sem Fronteiras¨ da Globo News: https://www.facebook.com/joaocesar.cesarabreu/videos/1945807572121432/  

MAIS MÉDICOS: A GRANDE FARSA
            Antes de qualquer consideração, gostaria de esclarecer que minha formação básica na medicina é em pediatria e saúde coletiva, na condição de professor de medicina preventiva e social e também medicina do trabalho. Sou formado há 35 anos trabalhando desde então na saúde publica, inclusive conhecendo quase todos os recantos mais distantes e inóspitos de algumas regiões do país, como a Amazônia através do atendimento médico a ribeirinhos em Navio Hospital da Marinha do Brasil.
            Também conheci muitos interiores do Norte, Centro Oeste e parte do nordeste através da Caixa Econômica Federal, pois era o médico responsável pelos empregados desta empresa nessas regiões e até hoje trabalho pelo SUS desde 2002 como pediatra concursado em hospital público (Municipal de Caucaia), que é referência para vários municípios da região norte litorânea do Ceará.
            Importante salientar também que do ponto de vista político ideológico sou de centro esquerda, simpatizante e eleitor do Ciro Gomes e que considera os dois mandatos do governo Lula como os melhores já ocorridos no Brasil desde sua descoberta, apesar de não ser simpatizante do PT e de seus militantes radicais robotizados.
            Portanto, me sinto abalizado para opinar de forma isenta a respeito do Mais Médicos como programa de saúde pública no Brasil.
            Não sou contra a atuação de médicos estrangeiros no Brasil, mas da forma como o mais Médicos foi planejado e executado, faz dele uma das maiores farsas já ocorridas na área de saúde pública no mundo.
            Temos que reconhecer que a saúde pública em Cuba é exemplar, assim como o SUS do Brasil, que em tese também deveria ser caso fosse levado a efeito pelo poder público conforme idealizado na VIII Conferência Nacional de Saúde em 1986. Acontece que, por vários motivos, mas principalmente o econômico, Cuba se viu na necessidade de exportar serviços médicos focados na atenção básica e preventiva como forma de suprir suas necessidades econômicas imediatas e o fez através de programas dessa natureza para países carentes e em desenvolvimento, cujas condições de saúde eram precárias.
            Entretanto Cuba dispõe de apenas 25 faculdades de medicina para seus cidadãos e uma escola latino americana de medicina que alberga representantes de mais de 113 países. Como formar tantos profissionais em tão pouco tempo com apenas 25 faculdades de medicina? Devido a urgência financeira, entre outras envolvidas na questão, passou a utilizar de profissionais sem a formação completa nos seus cursos regulares, haja visto que a grade curricular do curso de medicina em Cuba prioriza desde os primeiros anos o atendimento na atenção primária e na medicina preventiva, com treinamento hospitalar desde o inicio.
            Apesar de não obrigatório, se utiliza da maneira mais indigna e desprezível, que são as más condições de renda desses profissionais no seu país, para induzi-los a trabalhar nas situações que passamos a conhecer aqui no Brasil. Contrariamente às afirmações de muitos radicais petistas, em verdade a grande maioria desses profissionais não estão aqui pelo altruísmo e solidariedade humana, mas principalmente para sobreviverem com mais dignidade e bem estar para si próprios e suas famílias. Muito me admira os petistas não serem sensíveis aos trabalhadores cubanos como fazem com os brasileiros.
            Quanto à saúde brasileira e o impacto causado pela saída dos cubanos, com a regulamentação do ¨ATO MÉDICO¨, que tramitou no Congresso Federal por mais de dez anos e foi aceito por todas as categorias de classes relativas à saúde e ignorado totalmente pela Dilma, uma das soluções imediatas para o atendimento nos interiores, principalmente os mais longínquos e inóspitos, seria a capacitação dos agentes de saúde da própria localidade e enfermeiros para a atenção primária, que era o que os cubanos basicamente faziam: tratamento de verminoses, coceiras, dermatites simples, doenças crônico degenerativas (previamente prescritas por médicos como diabetes e hipertensão), diarreias, cefaleias, cólicas e inúmeras outras. Importante registrar que só a presença de profissionais de saúde não basta, é preciso dar a mínima condição de atendimento com locais apropriados e materiais e medicamentos básicos, o que nunca aconteceu em áreas extremamente carentes, motivo da necessidade de transferência dos pacientes com problemas mais complexos.
            Hoje é frequente a regulação e transferência de pacientes dessas localidades atendidas por cubanos para tratamento em hospitais de referência visando atendimentos considerados de baixa complexidade como hidratação parenteral em crianças, condição nosológica que qualquer médico da atenção básica deveria saber conduzir.
            As que realmente necessitassem da presença do médico, poderiam ser supridas com visitas periódicas através de barcos ou navios hospitais (como faz a Marinha na Amazônia) ou programas como Carretas da Saúde (criado pelo Dr. Roberto Kigawa, assassinado recentemente em SP) nas periferias dos centros urbanos maiores ou em cidades médias do interior ou até mesmo o transporte, fornecido pelo município e subsidiado pelo Ministério da Saúde, de pessoas mais carentes em locais distantes para cidades que tenham médicos residentes, enfim, quando se quer fazer, ideias não faltam, o que falta é vontade política e boa vontade. Esses exemplos, além de bem mais baratos, fazem com que a comunidade atendida tenha maior familiaridade com o atendente, pois este faz parte da realidade dela.
            Por outro lado, por R$ 11.500,00 e a carreira de estado para dar segurança, não faltarão médicos para substituir esses atendentes cubanos, que todos nós sabemos que em sua grande maioria não eram médicos regularmente formados (6 anos de graduação) em Cuba, por isso o medo do revalida, outra página da constituição que a Dilma e o PT também rasgaram.
            Quanto a essa socióloga americana Julie Feinsilver, formada pela Universidade de Yale, entrevistada pelo Jorge Pontual da Globo, desde sempre caminha pelo viés ideológico da esquerda radical e ai não precisa falar mais nada, por isso a entrevista foi censurada pela Globo pra passar em canal aberto, pois o repórter também é assumidamente de esquerda. Desculpem o textão, mas aproveito para tentar esclarecer também os mais incautos.

Marco Antônio Abreu Florentino
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 18/11/2018
Alterado em 25/11/2018
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