Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
A REVOLTA DOS CAVALOS, JUMENTOS E AFINS
A REVOLTA DOS CAVALOS, JUMENTOS E AFINS

            Ninguém sabe como, quando e onde mas, de repente, mais que de repente, já estava acontecendo o maior e mais efetivo movimento de protesto na república das bananas, aquele pais exótico da América do Sul escolhido por Iblis, agora travestido de Set, o vampiro do planalto central, para reinar todo poderoso como um autêntico senhor dos anéis, apesar de quase não usa-los devido a delicadeza de seus dedinhos em mãos tão esvoaçantes.
            Esta sublevação foi orquestrada por uma categoria também inesperada... a dos cavalos, jumentos, mulas e burros de carga, a mesma que em outros tempos e lugares, como numa nação vizinha, foi responsável pela queda do governo vigente através de golpe de estado traiçoeiro e covarde.
            Dessa vez foi diferente. Desprovida de ideologia e partidos políticos, esta categoria de trabalhadores ajudou o vampiro a derrubar a rainha de copas, uma burrica de cara fechada que foi eleita legitimamente pelo povo, certo que indicada pela maior e mais carismática MULA que já passou por essas bandas, oriunda do nordeste e que, durante oito anos à frente da nação, fez do seu povo um povo feliz e bem assistido, colocando-o e guiando-o na estrada que leva ao desenvolvimento e bem estar de primeiro mundo.
            O fato é que, desde sempre disposto a usurpar o poder, o Temeroso vampiro, com a eficiente ajuda de seus asseclas ratos, ratazanas, camundongos e baratas habitantes dos esgotos e valas fétidas do pais, juntamente com urubus, cobras e chacais que se arvoravam como animais de primeira categoria, uma espécie de aristocracia e nobreza à parte, tendo o ¨príncipe¨ das gerais, um chacal de linhagem nobre à frente, se aproveitaram da fraqueza da burrica deslumbrada e tomaram de forma ridícula, covarde e ilegítima o governo.
            Importante ressaltar que foram apoiados também por muitas raças de cavalos que se achavam superiores às outras, representantes fidalgos da ordem dos ungulados, tipo Andaluz, Quarto de Milha, Mustangue, Puro Sangue Inglês, Árabe (a do vampiro) e outras. Moradores de centros urbanos, principalmente Suampa, a maior de todas as cidades e detentores de uma certa condição financeira por herança ou privilégios de uma classe média atrasada e metida a besta, seus potrinhos foram à rua relinchar um ¨fora governo¨ numa dancinha ridícula, coreografada e ritmada pelo pisar de panelas engendradas pelos seus pais. Eram apoiados pela mídia rasteira e comprometida, particularmente a maior de todas, a rede bila de televisão.
            Entretanto, como era de se esperar pela natureza maldosa da sua fria alma, aliada à incompetência e mal assessoramento, feito até por um mosquito do mangue incômodo, um tal de Carlito Maruim vindo das brenhas do pantanal, as coisas começaram a dar errado. O senhor das trevas dificultou o que pode a vida do povo, principalmente da classe trabalhadora, que vivia uma das maiores crises de desemprego da história. A política econômica e social, um verdadeiro desastre, privilegiava o grande capital mundial, protegendo especuladores e grandes empresas estrangeiras, entregando o patrimônio nacional e suas maiores riquezas.
            A oposição enfraquecida continuou com suas velhas e já ultrapassadas palavras de ordem e discussões teóricas intermináveis de cavalos pseudo intelectuais nas estrebarias acadêmicas, também se achando, duma certa forma, superiores aos demais equinos. Nunca foram problema para a situação e governo vigente.
            E é neste contexto que surge a insurgência dos cavalos da terra que realmente produzem e trabalham, carregando e levando, de sol a sol, a produção do país, abastecendo e gerando trabalho em todas as frentes de atividades. São cavalos Tropeiros, Crioulos, Pantaneiros, Campeiros e até Mangalarga Marchador, apoiados por jumentos, burros e jegues, incluindo vacas e bois.
            Inicialmente subestimado, à medida que o tempo passava o movimento tomava proporções preocupantes e assustadoras. A elite equina já estava tendo dificuldades em obter seus alimentos como forragens e cereais de boa qualidade e até mesmo alguns supérfluos como cenoura e alfafa. O governo em pânico, pego de surpresa, sem saber o que fazer com situação tão inusitada, começou a marcar reuniões e reuniões para gerenciamento da crise e se percebeu de joelhos. Neste momento, consciente da sua vulnerabilidade e sabedores do medo histórico que quadrúpedes tem de cachorros, apelaram para os cães da segurança nacional... Pastores Alemães, Dobermans, Rotweillers e Pitbulls.
            Porém, comentam à boca pequena que a turba popular dos cavalos aprendeu a lidar com cachorros, ratazanas, morcegos e outros bichos que lhes causavam pavor. Descobriram que mais latiam do que mordiam e que cavalos e afins unidos tem mais poder do que possam imaginar. Quem diria que essa conscientização ensinada por um cavalo da raça Bávaro, de origem alemã, que influenciou a maior revolução do século XX num pais da Europa oriental , tenha surtido efeito numa categoria simples e esquecida de todos, só lembrada pelos cantores bregas das rádios tupiniquins.
            Também corre um rumor de que Set, o vampiro do planalto central vai renunciar para impedir novas eleições, pois todos tem consciência de que essa quadrilha de bichos nojentos não vai eleger ninguém.
            Conseguiram prender no estábulo o maior de todos os governantes, a MULA nordestina acusada de ser a principal causadora de toda essa balbúrdia... mas talvez nem ela desse mais jeito na situação pois iria polarizar demais a sociedade do país das bananas.
            Parece que está chegando com força outro personagem, um jumento também nordestino, cabeça chata juramentado pela experiência, preparo intelectual de toda uma vida, honestidade e capacidade de dar uns coices quando é preciso. Estou apostando nele.
            É a verdade e dou fé

Marco Antônio Abreu Florentino​

https://youtu.be/pLlQL0XDyrg
(Comitiva Esperança - Almir Sater)
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 27/05/2018
Alterado em 29/11/2019
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