Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
FESTA NO CASTELO DO DRÁCULA - O VAMPIRO DO PLANALTO CENTRAL
FESTA NO CASTELO DO DRÁCULA - O VAMPIRO DO PLANALTO CENTRAL

            Dia agitado... frenesi, muito frenesi lá pras bandas do planalto central. A festa prometia. Desde o primeiro dia em que Juno resolveu denunciar Miguel das Trevas, vulgo Drácula - o vampiro do Planalto Central como ladrão, baseado em provas registradas em imagens e delação, ¨accusatio¨ de exigir e receber propina na ordem de quinhentos mil reais por semana, que o quiróptero não sossega.

            Já estabelecido no poder da Ratolândia como presidente ilegítimo, reconhecidamente traidor da rainha de copas agindo como um escorpião, daqueles que rasteja pelo chão nas sombras do dia e na escuridão da meia noite, injetando seu ferrão até nos que lhe beneficiam, seguindo sua natureza de rastejador e que, por influencia de Goethe em seu Fausto e do paraibano Ariano Suassuna em seu Alto da Compadecida, através da entrega da sua alma a SET, criou asas e voou como um vampiro sugador desde os idos do século XV, quando nasceu conhecido por Vlad, o empalador.

            Juno, um bárbaro proveniente dos países nórdicos, estava sob a  constelação de Ursa Maior e de Boote. Élice, a ninfa amada por Jupiter fez com que Juno, cioso, se transformasse na Ursa Maior. Com seu filho Árcade, que MOROu algum tempo com ele, passaram a ser o terror de ratos que perambulavam errantes pelas cidades. Dizem à boca pequena que Juno é descendente de Van Helsing.

            Bem, o que aconteceu depois foi inacreditável. Com todas as evidências de traições, roubos e falcatruas, assim mesmo Miguel das Trevas, acintosamente e na maior ¨cara de pau¨, ofereceu dinheiro e benefícios aos seus julgadores, que conforme a constituição da Ratolândia, exigia que a grave denúncia teria que passar pelo crivo dos ratos deputados antes de seguir para o supremo tribunal das ratazanas empedernidas.

            E assim, com a vil conivência dos ratos que queriam voar como ele e se transformar num elegante vampiro sugador, conseguiu se livrar do aborrecimento de ter que enfrentar a suprema corte, mesmo sabendo que os empedernidos magistrados, em nome da estabilidade da comunidade rapinante, iriam absolve-lo.

            O trágico e deprimente espetáculo foi transmitido ao vivo para todo o território nacional. A grande maioria dos ratos, que tinha votado a favor do impeachment da rainha de copas, votou a favor do iminente vampiro. Repetiam a desculpa da estabilidade e da necessidade de reformas no dia a dia, diga-se de passagem, sempre pior para a grande maioria da população, camundongos sem vez e voz.

            Teve até um dos ratos da raça conhecida como ¨paraense¨ que, inacreditavelmente, tatuou o nome de Miguel das Trevas no seu corpo. Seu nome ao nascer profetizava seu destino: Wladimir.... derivação de Vlad, o empalador.

            Todos prometeram presença na festa da vitória, alguns magoados ao perceberem que as asas presenteadas pelo maligno vampiro eram de cera, como Ícaro e seu sonho de voar... paciência Iracema, paciência, não se pode ter tudo e nem fornecer asas a cobras e lagartos, quanto mais a ratos.
            A festa, como não podia deixar de ser, aconteceu à noite, hora maravilhosa para o traidor vampiresco receber empresários e fazer amor com sua bela, também prometida por SET. Tentou mas não conseguiu, a despeito de cinco misteriosos comprimidos... três de cor azul e dois amarelos tomados de uma só vez. Quase teve um infarto, apesar da alegria estampada em seu rosto pelo resultado da votação, ansiosamente esperado por ele e que, naquele momento, era mais importante que qualquer coisa, inclusive essas besteiras mundanas como sexo.

            Se recompôs e foi receber os convidados. Ratinho feio, vulgo Caju, foi um  dos primeiros a lhe abraçar. Tirou os óculos para não machucar seu mestre e encostou sua ¨bochechinha¨ macia na boca de Miguel, que retrucou subitamente para não incitar fofocas. Logo em seguida, segurando um copo de whisky, celebrou com ele o conhecido ¨gato angorᨠcom aquela cara de pingorá, doido pra comer o que seu mestre também come. Finalmente se aproximou ¨ELE QUE HUMILHA¨, o come quieto do governo, com cara de aristocrata mas que fede mais que carniça podre.

            Pouco a pouco os ratos foram se acomodando... se refestelaram na mesa do coquetel, riram, gargalharam e dançaram. Alguns ofereciam seus pescoços e suas jugulares para serem sorvidas pelo mestre, mas a presença das esposas e famílias impediam tal intento. De repente, como por encanto, todos ficaram paralisados, pois seus comportamentos lembravam os bárbaros de Huno... e Huno lembrava Juno. Imediatamente a festa acabou ao sentirem uma friagem na espinha trazida pelos ventos do sul.

            Enquanto isso SET, também conhecido por Nosferatus, se agitava de angústia e inquietação. Seu filho predileto não lhe obedeceu e pareceu querer ter mais poder que ele. Nos seus aposentos subterrâneos estava a refletir como iria agir. Só Deus pra saber.

Marco Antônio Abreu Florentino
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 06/08/2017
Alterado em 06/08/2017
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