Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
A FELICIDADE E A CARNE
A FELICIDADE E A CARNE (Recado para os padeiros)

A humanidade acredita, através de seus pensadores, cientistas e religiosos, ter resolvido a eterna questão das dualidades: matéria - espírito; corpo - alma e Deus - homem. Em verdade, ainda está distante tal solução, pois perpassa obrigatoriamente pelo self humano, afinal, em última análise, a procura da felicidade torna-se o ponto fundamental e convergente deste assunto.

Longe de uma análise religiosa, no meu entender a questão foi, é e sempre será ÉTICA. Ora, no bojo de tudo, as paixões e sentimentos humanos são aflorados não só espiritualmente, na sua essência (alma), mas também organicamente, veiculados através dos fluidos, secreções, despojos, excreções... e quem há de negar que esta ou aquela lhe é superior?

A felicidade se faz sentir primeiramente na carne, anunciada previamente pelo sentimento hedônico, para posteriormente penetrar nos meandros invisíveis do éter humano.

Talvez este pensamento tenha influência no meu materialismo dialético (concepção filosófica que defende que o ambiente, os organismos e fenômenos físicos, tanto modelam os animais, os seres humanos, sua sociedade e sua cultura quanto são modelados por eles. Ou seja, que a matéria está em relação dialética com o psicológico e social, em oposição ao idealismo ao acreditar que o ambiente e a sociedade tem base no mundo das ideias, como criações divinas, seguindo as vontades das divindades ou outra força sobrenatural), mas não se pode negar sua lógica intrínseca.

Na literatura, Augusto dos Anjos, com a exacerbação do seu EU orgânico, carnal e material e GOETHE, com seu FAUSTO (onde um velho filósofo em busca da felicidade, transfigurada e projetada no amor a Margarida, vende sua alma ao diabo para que pudesse rejuvenescer e viver as paixões perdidas, reencontradas e novamente perdidas) representam,  de forma genial e universal, a condição humana dual.

É desnudando despudoradamente todas as formas de criações da mente, nos seus mais remotos cantos, claros e escuros, é que podemos ter uma tênue esperança de sermos felizes.

É isso que nós quatro fazemos todos os dias.

Marco Antônio Abreu Florentino

Fortaleza, 16 de maio de 2005.

OBS: Recado para dois padeiros da Nova Padaria Espiritual.

OBS 2: Particularmente, mesmo passados mais de onze anos, continuo fazendo isso todos os dias.
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 31/10/2015
Alterado em 29/11/2021
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