Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
ETERNIDADE
ETERNIDADE

         Nunca me iludi com essas questões sobre eternidade... somos concretude e finitude.
         Nossa história existencial começa quando apreendemos a racionalidade, ou seja, a capacidade de pensar o mundo e o ser. Continua no processo da ação vivencial e termina no desvelar do ser, ou melhor dizendo, do sentido do ser... a morte e, a partir daí, o NADA.

-¨Khayyam, não te aflijas por seres um grande pecador! É inútil a tua tristeza. Depois da morte virá o NADA ou a misericórdia¨- (Omar Kháyyam).

         Isso é niilismo? Claro que não, afinal, é justamente na angústia da consciência de todo este ciclo existencial que faz com que preenchamos o vazio das nossas existências, seja na arte, no trabalho, no prazer, no sofrimento, no amor, no medo ou na felicidade. Em suma, há que se viver intensamente o momento existencial, com suas contradições, interrogações, provocações, certezas, sonhos e mistérios.
         Observem os recursos de linguagem utilizados para enfatizar o  tema em questão, com diversas palavras que expressam diferentes sentimentos. São recursos utilizados para representar, de forma mais aproximada, o que é nossa existência, aliás, nosso MOMENTO existencial, que não carrega o passado, que é projeção e não se atrela ao futuro, que é antecipação.
         Talvez assim possamos superar a ANGÚSTIA da nossa condição de ¨SER PARA A MORTE¨. Mas tem que ser um processo cíclico, pois só na angústia nos tornamos autênticos, sendo portanto, uma condição necessária e não contingente.

-¨Os dias passam rápidos como as águas do rio ou o vento do deserto. Dois há, em particular, que me são indiferentes: o que passou ontem, o que virá amanhã¨- (Omar Kháyyam).

         Quanto à questão da preservação da alma, trata-se de compreensão análoga às teorias espíritas da reencarnação, só que do ponto de vista físico. Com o tempo, a fragmentação do ser e sua essência, que é o espírito (energia) em inúmeros outros seres, conforme preconiza a teoria quântica, descaracteriza a sua identidade, que antes representava sua alma e que, na pequenez da nossa memória, também desaparece, como um ente perdido na linha incognoscível do espaço e do tempo.
         Entretanto, na obra de arte, a representação ôntica permanecerá infinitamente além da sua representação ontológica. Aí sim, a ETERNIDADE.
         E quanto à questão religiosa? Bem, nesta é melhor se calar.

E mais Khayyam: ¨Que vale mais? Fazer exame de consciência sentado na taverna ou prosternado na mesquita? Não me interessa saber se tenho um senhor e o destino que me reserva¨.

Marco Antônio Abreu Florentino
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 09/07/2015
Alterado em 10/07/2015
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