Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
O PRIMEIRO DISCURSO
O PRIMEIRO DISCURSO
         Sinto muito, mas não pretendo ser o dono da verdade… imperador, ditador ou tirano sim, pois essa é a minha natureza. Primeiro eu, depois minha família e amigos, finalmente depois, se possível, os outros, mesmo assim com restrições a algumas raças, credos, etnias, condição social, opção sexual e por ai vai.
         Todos nós queremos, antes de qualquer coisa, a nossa felicidade, para depois desejarmos a dos outros, contanto que esses outros tenham haver conosco. Sei que no mundo há espaço para todos e que não deveríamos odiar e desprezar uns aos outros, mas não é o que acontece e com certeza, nunca acontecerá, pois essa é uma das utopias humanas.
         Nós nos extraviamos porque nascemos assim, arrogantes, egoístas e individualistas, sedentos de riqueza, poder e bem estar próprio. Não era para precisarmos de religião ou coisa que o valha para vivermos em harmonia e fazendo o bem, pois apenas o senso ético deveria nortear nossas vidas e ações… sabem, aquela coisa de não querermos para os outros o que não desejamos para nós, mas infelizmente essa não é a regra da conduta humana e estão sendo falsos aqueles que renegam tal condição.
         Criamos a época da velocidade e da abundância porque gostamos desse prazer material e nos sentimos bem em estarmos enclausurados nesse meio. O que nos incomoda é estarmos enclausurados dentro de nós mesmos. Não somos empedernidos e cruéis, apenas egoístas.
         A internet aproximou-nos muito mais. A própria natureza dela é um apelo ao nosso isolamento… um apelo egocêntrico universal. Neste mesmo instante o meu texto chega a milhões de pessoas mundo afora. Desesperados, miseráveis, humilhados, arrogantes, acomodados, bem aventurados homens, mulheres e criancinhas que, à exceção destas (ainda puras e inocentes, porém, o mal em potência), se pudessem estariam no lugar dos torturadores e carcereiros da liberdade, resultantes de um sistema inexorável criado pela alma racional humana.  
         E assim caminha a humanidade, onde o progresso vai sempre esmagar muitos em detrimento de poucos. Sempre foi assim desde o início dos tempos e assim vai continuar. Não é privilégio somente do capitalismo. De nada adiantou criarem mártires, salvadores e messias, pois as coisas pioram cada vez mais com o decorrer do tempo, aliás, esses que se dizem seguidores de tais salvadores parecem que são os piores, pois se utilizam da hipocrisia descarada para continuarem mantendo seu status quo de uma existência laboriosa.
         Portanto soldados, mantenham-se perfilados e obedientes à hierarquia e disciplina dos comandantes de cada quartel de muralhas altas e quase intransponíveis, pois assim se sentirão mais protegidos, afinal isso é o que vocês são, ou melhor, querem ser… gados para serem tocados.
         Sei que manterão a capacidade de amar a si mesmos e aos seus entes mais caros, assim como também sei que jamais se auto destruirão numa guerra fratricida sem causa ou ideal, afinal de contas isso destruiria por completo seus anseios de bem estar e poder. E é exatamente essa condição de tensão coletiva que nos faz tolerar uns aos outros, mantendo um equilíbrio social apenas quebrado por alguns hitleres mais autênticos que resolvem se manifestar sem máscaras.
         Silviana, estás me ouvindo? Onde te encontrares levanta os olhos! Estamos entrando no admirável mundo novo… o mundo de Matrix, em que os homens se deixarão guiar pelos números e pelas máquinas. Ergue os olhos enquanto pode.
         Sei que não era o texto que gostariam de ler numa época de aparente renovação e esperança, mas ultimamente não tenho conseguido ser tão falso.

Marco Antônio Abreu Florentino

OBS: Texto crítico ao ¨O ULTIMO DISCURSO¨ de Charles Chaplin.

Dedicado a todos os homens de boa vontade, pois os de má fé não vão se sensibilizar... deitam suas sórdidas cabeças tranquilamente no travesseiro e dormem como se fossem anjos de Beliel.
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 07/07/2015
Alterado em 20/06/2017
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