Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
CONSIDERAÇÕES SOBRE EUTANÁSIA
CONSIDERAÇÕES SOBRE EUTANÁSIA
      Sobre um assunto tão polêmico, em voga pelo recente caso da garota italiana, é bom que se esclareça os conceitos de Eutanásia, Distanásia e Ortotanásia.
      Resumidamente, podemos afirmar que eutanásia diz respeito ao conjunto de ações que venham a facilitar e, até mesmo, provocar a morte do indivíduo que esteja numa situação de irreversibilidade patológica / nosológica, como num câncer terminal ou de extremo sofrimento e dor. Pode ser PASSIVA, quando se deixa de fornecer as condições de manutenção da vida, como desligar aparelhos e equipamentos para tal fim, ou ATIVA, quando há interferência do médico que assiste ao paciente, através de medicações ou procedimentos que ocasionem diretamente a morte.
      A distanásia vem a ser o contrário: a manutenção das condições de vida de um paciente em estado terminal ou irreversível, mesmo que para isso ocorra sofrimento e dor. Chamo a isso de INDÚSTRIA DA MORTE, muito comum nos hospitais de hoje.
      A ortotanásia deixa que o curso natural da morte aconteça.
Estamos diante de um tema que há milhares de anos aflige o homem. Envolve fatores de natureza cultural, social, religiosa e filosófica. Existem outros conceitos a respeito, mas fiquemos com esses.
      Longe de um consenso, coloco desde já minha opinião: SOU TOTALMENTE A FAVOR DA ORTOTANÁSIA E DA EUTANÁSIA e radicalmente CONTRÁRIO À DISTANÁSIA.
      Ainda lembro o comentário de um grande pensador amigo meu, hoje professor no Maranhão, quando fazíamos a graduação em filosofia pela Universidade Federal da Paraíba, no qual afirmava que um dos maiores problemas do homem é o de ter vindo ao mundo sem que sua vontade tenha participado de tal evento, ou seja, do próprio existente não ter sido consultado e depois, a partir da consciência de estar aí no mundo, não querer mais deixá-lo, portanto, almejando a vida eterna.          
      Aprendi mais tarde, me aprofundando no mestrado em filosofia com o tema ¨A Angústia em SER E TEMPO¨, de Martin Heidegger, filósofo contemporâneo do séc. XX, que isso vem a ser a FACTICIDADE.
      Tenho vários argumentos para defender meu ponto de vista, porém, gostaria de centrar num deles, justamente aquele que realça a contradição ética / religiosa da sociedade ao longo dos anos, na qual afirma que somente a Deus é dado o direito de tirar a vida de uma pessoa. Ora, e nos casos onde a pena de morte é legalizada, como nos EUA, como fica? Até padre comparece para a extrema unção. E nas situações de Guerra? Matar é legitimado pelo estado na defesa e honra da nação.
      Até com os outros entes, que não possuem o dom da racionalidade e portanto da vontade, há o sacrifício em prol do não sofrimento, como no caso de um cavalo com a pata quebrada. Por que não com o ser humano, devidamente assistido por médicos e familiares?

¨NÃO CREIO NO CÉU, NO INFERNO, NA REENCARNAÇÃO, NA RESSURREIÇÃO E NA OUTRA DIMENSÃO¨. Marco Abreu

¨O MUNDO É O INFERNO E OS HOMENS DIVIDEM-SE EM ALMAS ATORMENTADAS E EM DIABOS ATORMENTADORES¨. Arthur Schopenhauer

Marco Antônio Abreu Florentino
Médico emergencista e mestrando em filosofia

OBS: Texto escrito em 2008, portanto, quatro anos antes da minha primeira morte. Hoje, sete anos depois, continuo mantendo minha opinião e convicção sobre o assunto.
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 06/07/2015
Alterado em 06/07/2023
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