DA SÉRIE CONTOS CURTOS
CONTO N° 19
TUDO OU NADA

          BAH TCHÊ, não sei porque amanheci abichornado como piá sem pingo. Vai ver que é por causa dessa viagem pra São Paulo que eu não tava muito a fim. Ainda mais com esse firmamento que se alobunou pro aguaceiro. Mas tudo bem, o avião é moderno, grande e suporta tempestade.
          - Filha, só to indo porque marcaram essa maldita reunião pra hoje. Insistiram no 17 de Julho. já são 17:00 horas e preciso embarcar. Me dá um beijo. Avisa pra tia Alice que devo chegar lá pras 19:00, mas vou comer só um naquinho da janta. Antes vou cevar o amargo e fazer a chaleira chiar pro chimarrão.
          17:16, decolou...talvez chegue antes do previsto, lá pras 18:48 em Congonhas. Essa ansiedade não é normal prum guapo de melenas tordilhas. Acho que são essas turbulências.
          Tanta coisa pra resolver: o seguro pra fazer; a renegociação da casa com a Caixa; a pensão da ex; o casamento da filha... ah Silmara prenda minha, guria de ouro.
           Pronto tchê, chegamos, o avião tocou o solo, acertei no horário. 18:48. Agora nada mais de ruim pode acontecer. Mas que diabos... este avião não vai parar? Que isso? Que barulho é esse? Meu Deus, vai capotar desse jeito. Meu Deus, meu Deus, vai bater...AAAHHHHH.
           Explosão, fogo... silêncio. O NADA.
           Noticiário do dia seguinte: ¨Ninguém sobreviveu ao acidente com o avião da TAM no aeroporto de Congonhas¨.

Marco Antônio Abreu Florentino