DA SÉRIE CONTOS CURTOS
CONTO N° 16
ENTRE O CORAÇÃO E A RAZÃO

       Talvez a psicanálise explique, afinal sua história de vida sempre foi permeada de muita atenção e carinho. Sétima filha de uma prole de nove irmãos, era visivelmente mimada por toda a família, particularmente pelo avô paterno, que a chamava de ¨minha princinha¨.
       Cresceu assim, rodeada de afagos e desvelo e assim correspondia, com uma meiguice e delicadeza extremadas. Era por demais graciosa em todos os quesitos virtuosos. Talvez isso também justificasse o precoce interesse dos rapazes por ela. Um em particular, parente de outras plagas construiu, em suas idas e vindas, sentimento de tal intensidade que já não sabia defini-lo se era amor ou algo acima da compreensão linguística.
       O fato é que atravessou o tempo, chegando numa maturidade que cobrava respostas.
       Mas tanto a ele como a outros que ansiavam pela sua acolhida amorosa, inclusive o marido, respondia com a dúvida fundamental: - estou entre o coração e a razão.
       E deste modo viveu e vive, de paixões que nunca tiveram fim, numa solidão que sempre dependeu de um sim.

Marco Antônio Abreu Florentino