DA SÉRIE CONTOS CURTOS
CONTO N° 13
FIL(HA)(O)SOFIA DA MATURIDADE

         Chegou aos cinquenta com a sensação de oitenta. Confessava sim ter vivido... e vivido intensamente. Sentia o cansaço existencial de tantas lutas, umas vencidas, outras nem tanto, talvez adiadas, mas o fato é que já não pensava em salvar sua circunstância com aquele vigor de outrora.
         No entanto, olhando para aquele pequeno ser em formação, prestes a completar seu primeiro ano de vida, correndo alegre e despreocupada pelo apartamento em seus primeiros passos, ainda apoiados no andador infantil, exibindo o sorriso aberto de gargalhadas espontâneas emitidas por uma pequena boca de lábios rematados num rostinho angelical, de feições tão belas quanto perfeitas, sentia que revigorava a cada momento, a cada minuto que ficava ao seu lado.
         O amor incondicional havia extrapolado qualquer tentativa de compreensão da razão, da ética ou da religião. Mais do que alegrar sua vida, a criança, com toda ingenuidade dos puros de coração, tinha lhe salvado.
         Em silêncio, agradecia à filha Sofia.

Marco Antônio Abreu Florentino
https://youtu.be/3LDM20EuVzU
(Good Night - The Beatles)