Marco Florentino
Em prosa e verso
Textos
DECOMPOSIÇÃO
DECOMPOSIÇÃO

Rasga, inclemente, dura pele em mil rugas
Abrindo espaço tênue entre tantas verrugas
Dilacera a carne cansada sem verter sangue
Desfiando até tornar fiapo o tecido exangue
                          
Denuncia a uricemia em gotas lancinantes
Saindo de olhos cansados e lacrimejantes
Apodrece, insidioso, o artelho hipoxêmico
Putrefazendo sem ver pâncreas glicêmico
                        
Amolenta, com achincalho, o órgão do mijo
Desnudando sem pudor orgulho outrora rijo
Esvanece em desarranjo conteúdo entérico
Deixando aos poucos semblante cadavérico
                          
Entope coronária para o iminente infarto
Inundando de gorduras vaso já tão farto
Necrosa, sem piedade, a morada do amor
Encerrando n´alma todo vasto esplendor
                            
Infiltra, agressivo, as patas do caranguejo
Desfazendo a matéria em horrendo latejo
Decompõe massa cinzenta logrando existir
Impedindo também a capacidade de sentir

Marco Antônio Abreu Florentino

OBS: Uma forma de compreender CIORAN

Com esse poema, faço uma homenagem ao que considero o maior de todos os poetas brasileiros... o paraibano Augusto dos Anjos.

https://youtu.be/RsKqMNDoR4o
(George Michael, Elton John - Don't Let The Sun Go Down On Me)
Marco Florentino
Enviado por Marco Florentino em 04/06/2015
Alterado em 17/03/2023
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